Lagartixa NY: o que fica das eleições americanas ganhe quem ganhar
Este artigo é escrito antes das eleições, por isso quem não queira ler coisas escritas antes, pode agora desistir. Mas seja qual for o resultado, a política americana teve nestas eleições um ponto sem retorno. É verdade que se ganhar Hillary Clinton tudo parece ter voltado à normalidade, mas não vai voltar. A candidatura de Trump é genuinamente revolucionária, carismática, e sabemos nós, demagógica e populista. Sabemos nós e sabem muitos dos seus eleitores, mas não querem saber disso para nada.
2. Há uma diferença abissal na candidatura de Clinton e de Trump e que se vê nas ruas (estou em Nova Iorque, feudo eleitoral de Hillary Clinton e povoado no melhor e mais caro espaço da cidade de torres Trump, apartamentos Trump, Hotel Trump, etc.), e essa diferença é entusiasmo, melhor, militância. O entusiasmo e a militância não chegam para ganhar eleições, se não Bernie Sanders tinha ganho a Clinton, mas dizem-nos muito sobre o impacto popular das candidaturas. A de Hillary Clinton é gélida e defensiva e a de Trump cheia de pathos. E se não fosse o argumento do voto útil, então seria tão previsível e aborrecida e burocrática, quanto a de Trump é um contínuo espectáculo.
3. Não é que Clinton faça tudo mal, é porque Clinton faz tudo bem. A senhora é o profissionalismo em pessoa, uma encarnação do político de carreira, sabendo muito bem o que deve ou não deve dizer, mas acima de tudo o que não pode dizer. A sua linguagem é a da política profissionalizada ao mais alto nível, fluente, capaz, elaborada, mas tão establishment que ninguém ouve. Clinton não consegue comunicar porque não tem empatia e é à partida demasiado "culpada" de todas as heranças. Trump fala da desertificação das cidades, do desemprego, dos fracassos da política externa americana e aponta-lhe o dedo da culpa, e, num certo sentido tem razão. Clinton é, até, culpada de ele não pagar impostos baseado num buraco da lei que favorece os ricos e mais uma vez tem razão. Ela personifica "Washington", a classe política democrática e... republicana que tem governado os EUA. É um argumento demagógico, mas mais uma vez, com muita verdade. E deixa Clinton a encontrar um único factor de mobilização: o medo de Trump.
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